A autonomia do BC seria como que aprofundar o que já ocorre nos últimos anos: a presença da raposa no galinheiro. O cartel dos bancos já possui um relevante poder político na condução da economia brasileira. Com esta medida, independentemente do governo eleito em 2002, o sistema financeiro continuaria a dominar a economia, com ainda mais liberdade para garantir e fortalecer os seus interesses privados. Para tentar reduzir este predomínio sobre as políticas monetárias e econômicas, o PT apresentou uma emenda parlamentar que propõe estender a quarentena para 12 meses para ex-diretores do BC assumirem cargos em instituições financeiras após deixarem o cargo. O texto aprovado prevê um prazo de seis meses. Há uma tendência de o Senado rejeitar a emenda e enviar o projeto para a Câmara dos Deputados.
O BC é presidido atualmente por Roberto Campos Neto, banqueiro, ex-executivo do Santander. No Governo Temer, a instituição foi presidida por Ilan Goldfajn, executivo do Itaú Unibanco.
Risco para o futuro
Apesar do apelo de uma expressão, “a autonomia”, que pode até enganar os menos avisados, a possível aprovação do projeto no Congresso Nacional traz um agravante: o futuro presidente da República não terá mais poder para interferir nas decisões da instituição. Questões sobre a política monetária, que estão diretamente ligadas aos rumos das políticas econômicas estarão, em definitivo, nas mãos de banqueiros e especuladores. No atual governo, isto não fará nenhuma diferença, pois de fato, o presidente Jair Bolsonaro não tem a menor noção da realidade econômica brasileira e ele próprio admite isto ao se esquivar de qualquer pergunta sobre o tema, transferindo a responsabilidade ao que ele chama de seu “posto Ipiranga”. Mas caso o povo eleja um novo candidato para presidir a nação em 2022, a decisão fará toda a diferença. O futuro governo, pelo menos nas questões monetárias e econômicas, poderá ser como uma “rainha da Inglaterra”, sem ter como decidir e conduzir os destinos da economia do país.
Fonte: SeebRio, por Carlos Vasconcellos