Bancários devem enfrentar banqueiros com mobilização, diz Eduardo Araújo
Com baixo crescimento global e estagnação da economia brasileira, bancários devem enfrentar banqueiros com mobilização
(Brasília) - Em virtude das previsões nada animadoras para a macroeconomia – crescimento global sem perspectiva de recuperação no curto prazo, fraco desempenho da economia brasileira em 2012, mas com perspectiva de recuperação em 2013 diante das medidas de estímulo (redução dos juros, readequação cambial e desoneração tributária) e menor patamar histórico da taxa Selic –, os bancários devem se preparar para enfrentar os banqueiros na Campanha Nacional deste ano com forte mobilização e unidade.
Diante das dificuldades da economia brasileira e do resto do planeta, o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, apresentou aos bancários, durante o Congresso do Sindicato realizado no último dia 22 de junho, uma análise do atual cenário econômico em que se encontra a Campanha Nacional dos Bancários 2013.
“Na Campanha Nacional deste ano, precisamos de unidade e muita mobilização para ampliar a renda do trabalhador e pela garantia do emprego, reverter o processo de demissões e rotatividade nos bancos privados e públicos pelo fim do assedio moral e de todo tipo de precarização das condições de trabalho”, afirmou Eduardo Araújo.
Conjuntura internacional
O cenário externo continua marcado por incertezas e com perspectivas de baixo crescimento global, considerando o desempenho das economias do G4 (Estados Unidos, Área do Euro, Reino Unido e Japão). A crise na Área do Euro, em particular, terá longo período de recuperação, pois combina estagnação econômica, ajuste fiscal e crescente nível de desemprego. Apesar de não se falar em risco de ruptura, o Produto Interno Bruto (PIB) da região diminuiu 2,4% no quarto trimestre de 2012, em termos anualizados, sendo o pior resultado desde 2009, com recuos expressivos na Itália (-3,7%), Alemanha (-2,4%) e França (-1,1%). Por outro lado, a restrição do cenário externo cria barreiras para a recuperação da economia brasileira via comércio exterior, mas também abre oportunidades e desafios para o fortalecimento do mercado interno via aumento do consumo e da renda.
Conjuntura nacional
Enquanto a Europa ainda enfrenta a ressaca da crise financeira internacional, o ano de 2012 foi marcado pela estagnação da economia brasileira, com o crescimento de 0,9% do PIB em relação ao ano anterior, ante 2,7% em 2011, reflexo da trajetória de desaceleração ao longo dos trimestres desde 2011, enquanto que o PIB per capita manteve-se praticamente estável (0,1%) em termos reais em 2012. É o pior desempenho do PIB desde 2009, quando se constatou os efeitos da crise financeira internacional no ano de 2009 – Gráfico 1.
Sob a ótica da oferta, a Agropecuária (-2,3%) e a Indústria (-0,8%) apresentaram queda em 2012, enquanto que os Serviços registraram expansão de 1,7%. Na agricultura, pesou o fraco desempenho da pecuária e, principalmente, o fato de que várias culturas importantes da lavoura brasileira apresentaram queda de produção anual - a exemplo do trigo (-23,3%), feijão (-19,3%), fumo (-15,6%) - e perda de produtividade diante de problemas climáticos. Já a retração da indústria se relacionou com as dificuldades nas exportações, dado cenário externo adverso e o câmbio apreciado. Nos Serviços, os destaques positivos foram os Serviços de informação (2,9%), da Administração, Saúde e Educação Pública (2,8%) e Outros serviços (1,8%), enquanto o subsetor de Intermediação Financeira e Seguros a alta acumulada foi de 0,5%. Grande parte do desempenho dos Serviços se deveu ao crescimento da massa real de salários e do crédito ao consumo, que sustentou a alta das vendas no comércio varejista de bens em ritmo superior ao da produção industrial.
Sob a ótica da demanda, o Consumo das Famílias cresceu pelo 9º ano consecutivo (+3,1%), por conta da alta de 6,7% da massa salarial real dos trabalhadores, e pela alta, em termos nominais, de 14,0% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para as pessoas físicas.
Conjuntura setorial
Segundo o Banco Central do Brasil, as operações de crédito do sistema financeiro nacional, incluindo recursos livres e direcionados, cresceu 16% em doze meses encerrado em dezembro de 2012. Os recursos livres evoluíram em 14%, com destaque para o crédito pessoa física (+11%), ante o crescimento de 21% dos recursos direcionados, especialmente o crédito rural (+24%) e habitacional (+38%).
Os recursos direcionados têm volumes mínimos e taxas previamente definidas por normas governamentais, funcionando como instrumento regulador, enquanto os recursos livres são livremente acordados entre bancos e tomadores de crédito. O volume de crédito tomado pelo setor público, incluindo União, Estados e Municípios, cresceu 45%, ante 15% do setor privado.
Para o total do sistema financeiro nacional se constatou uma queda de 19% do spread bancário geral em dezembro/2012, ao sair de 33,7% em dezembro/2011 para 27,% em dezembro/2012, principalmente em razão da maior queda da taxa de captação dos bancos (-31%), ante a taxa de aplicação (-24%). Ademais, o cenário de queda dos juros e spreads bancários, observado entre 2011 e 2012, desafiou o setor bancário na busca por ganhos de escala com operações de crédito em contraposição aos ganhos com a mera receita de títulos públicos remunerados pela Selic (receitas de tesouraria). Outro fato interessante foi o comportamento da inadimplência (atrasos acima de 90 dias), que se manteve estável em 3,6% em doze meses encerrados em dezembro/2012 – Gráfico 3.
Por último, apesar da queda do spread, os seis maiores bancos em ativos – Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú, Bradesco, Santander e HSBC - conseguiram ampliar em 7% o resultado bruto da intermediação financeira – que expressa a diferença entre receitas e despesas de intermediação, e ainda apresentaram lucro líquido de R$ 51,4 bilhões em 2012 (+0,9% em doze meses), em pese a alta de 20% nas despesas com provisões de crédito de liquidação duvidosa - Tabela 4. Entre os bancos, o destaque foi a Caixa Econômica que lucrou mais de R$ 6 bilhões em 2012, com crescimento de 17% em doze meses.
Emprego e remuneração no setor bancário
Nas relações de trabalho, a estratégia dos bancos se direcionou no sentido de reduzir despesas de pessoal e administrativas, dentro da lógica da busca pela eficiência. Contribuíram para esse processo o aumento exponencial do número de correspondentes bancários (diante das resoluções do Conselho Monetário Nacional) e a prática da rotatividade via aumento dos desligamentos e da diferença de remuneração entre admitidos e desligados no setor bancário.
Da Redação com informações do Dieese