1 de Outubro de 2011 às 23:59
Funcionários do Bradesco Telebanco cruzam os braços
Concentração com 2 mil trabalhadores adere à greve para denunciar metas abusivas, assédio e estratégia de premiação injusta
São Paulo – O Telebanco Bradesco Santa Cecília fechou as portas neste quarto dia de greve dos bancários. Os trabalhadores da concentração, que conta com cerca de 2 mil funcionários, aderiram em peso e cruzaram os braços.
“Foi uma ação importante para o movimento porque o Telebanco é um setor estratégico para o Bradesco, fundamental na efetivação de várias operações financeiras. Além disso, o banco tem grande peso na mesa de negociação, e contar com o apoio dos trabalhadores de um setor importante para a instituição é uma vitória do movimento de greve”, avaliou o diretor executivo do Sindicato Walcir Previtale, que conversou com os bancários na porta da concentração.
O diretor do Sindicato Marcos do Amaral, o Marquinhos, lembrou aos bancários do Telebanco que aquele era um setor de terceirizados e que, por meio da luta do Sindicato, o banco incorporou os trabalhadores. “Isso mostra que nenhum dos nossos direitos como bancários foram dados pelo banco, mas conquistados por meio da luta. Por isso o apoio e a união da categoria, como vimos aqui hoje, é fundamental.”
Festas e bombons – Metas cada vez mais abusivas são uma constante na rotina da categoria e os bancários do Telebanco não fogem à regra. Essa é uma queixa comum entre os funcionários que pediram para não ser identificados.
“Quando eu entrei aqui, há um ano e três meses, a meta era de 60 pontos, hoje ela está em 300”, denunciou uma funcionária, esclarecendo que cada venda ao cliente corresponde a determinados pontos.
Além do crescimento vertiginoso das metas, o banco promove competições entre os funcionários para estimular as vendas e, ao invés de compensá-los com ganhos no salário, oferece prêmios como festas ou viagens apenas para dois ou três que se destacaram. “Foi o que aconteceu comigo: fiquei em quarto lugar por dois pontinhos e perdi o prêmio, que foi só pros três primeiros colocados. Ou seja, me matei pra dar lucro pro banco e não recebi nada”, explicou a bancário.
“Em geral, o banco compensa com festas na Vila Madalena, que reúnem os melhores de vários sítios (locais de trabalho). Ou então, o que é mais comum, distribui ‘grandes prêmios’ como canetas e bombons”, ironizou outro trabalhador. As metas levam à pressão e ao assédio moral. “Muitas pessoas ficam doentes. Todo dia tem alguém buzinando na sua cabeça: ou você vende ou vai embora.”
Outro bancário reclamou ainda do autoritarismo do banco ao mudar função ou horário dos funcionários. “Eles mudam seu horário sem nem perguntar.”
Sem promoção – Há 13 anos no Bradesco, uma trabalhou passou pelo menos oito aguardando uma promoção que não veio. “A gente não tem oportunidade de crescer. E quando alguém é promovido, esse alguém em geral é um ‘escolhido’, parente de gerente ou protegido”. Para ela, faltam critérios claros e transparentes de promoção. Entre as reivindicações da categoria está a adoção de Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS) em todos os bancos, com oportunidade de promoção para todos.
Após esperar em vão, essa bancária foi transferida de uma agência para o Telebanco. “Nosso salário é uma vergonha. E a gente que tem filho, que tem de pagar o salário mínimo pra babá ficar com seu filho, fica se perguntando se não é melhor deixar o emprego. Isso nos desestimula totalmente”, desabafou.
Sua colega de trabalho tem uma história semelhante: “Estou há nove anos aqui e nunca fui promovida. A gente estuda, tenta se especializar e dar o melhor no trabalho, e não somos recompensados. Queremos ser valorizados”, afirmou.
Fonte: Seeb-SP