3 de Novembro de 2011 às 22:59
G20: Dilma condiciona taxa financeira a piso único de renda
O Brasil está disposto a avançar nas discussões sobre a criação de um imposto mundial sobre as operações financeiras, à condição que os países do G20 estejam prontos para adotar um piso único de renda, nos moldes da proposta da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para garantir um mínimo de proteção mundial a seus Estados-membros. A proposta, apresentada em janeiro pelo presidente Frances, Nicolas Sarkozy, foi defendida nesta quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff na cúpula dos chefes de Estado e de Governo do G20, em Cannes.
"Apoiamos a tese da OIT de que um piso único de renda não é filantropia, é uma rede de proteção mundial fundamental para enfrentar a crise, e que tem efeito inequívoco contra a crise", discursou Dilma, no plenário dos lideres, durante a sessão de trabalho sobre dimensão social da globalização e comércio. "O Brasil não irá se opor a uma taxa financeira mundial se isso (piso único de renda) for um consenso entre os países, a favor da ampliação dos investimentos sociais."
A taxa sobre as operações financeiras é a principal bandeira defendida pela presidência francesa do grupo das 20 maiores economias do mundo. O Brasil já possui o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e por isso vinha demonstrando resistência à adoção de um tributo no âmbito do G20. Na visão do país, a taxa pode ser instaurada desde que cada Estado decida como aplicá-la.
A adoção do tributo faz parte das propostas para reformar o sistema financeiro, uma das prioridades do G20 desde a crise financeira de 2008. O objetivo é o de limitar s especulações nos mercados de divisas realizadas nos mercados. O dinheiro arrecadado com a cobrança seria destinado a ajudar os países em desenvolvimento.
Após a reunião, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, se disse satisfeito com a postura brasileira, que ao lado da Argentina, mostrou disposição em negociar o assunto. "Fiquei feliz de ouvir das minhas colegas do Brasil, Dilma Rousseff, e da Argentina, Cristina Kirchner, de que não há nenhuma oposição ao princípio de uma taxa. Elas estão abertas à discussão", declarou o presidente francês. Já a ideia de um piso único de renda não é nova: foi proposta pelo próprio Sarkozy aos colegas do G20 em janeiro, com base nas convenções da OIT de proteção social.
Os principais opositores à criação de um imposto são os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, enquanto a França e a Alemanha são as grandes defensoras da ideia. Por conseqüência, é possível que essa taxa de aplique apenas aos países que adotam a zona do euro. "O G20 não pode ser utilizado como desculpa para não se fazer nada. Eu sou partidário que avancemos na Europa", afirmou o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble. Para Sarkozy, a adoção do tributo "é uma obrigação moral" do sistema financeiro, "que não obedeceu a nenhuma regra durante a crise".
Rodada de Doha
Sobre as questões comerciais, a presidente brasileira defendeu a retomada das negociações da Rodada de Doha e disse que a conferência da Organização Mundial do Comércio, em dezembro, "deve ser uma oportunidade para (...) discutir a questão cambial e as questões de segurança alimentar, incluindo subsídios agrícolas".
Encontro
Os líderes do G20 (grupo que reúne os países ricos e os principais emergentes) deram início nesta quinta-feira em Cannes (França) a 6ª cúpula decididos a adotar medidas para reativar o crescimento mundial e enfrentar a crise da União Europeia. Anfitrião da cúpula, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, recebeu um por um os líderes mundiais na chegada ao Palácio dos Festivais, antes de iniciar o almoço de trabalho para analisar a situação econômica mundial.
O G20 é formado pelos países do Grupo dos Oito (G8, EUA, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, Itália e França mais a Rússia), somado a Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México, África do Sul e Turquia, e a União Europeia. Espanha participa como convidado permanente, pois assistiu a todas as reuniões. Nesta edição também há outros convidados especiais, como Guiné Equatorial e Etiópia.
Como na cúpula de Washington, há três anos, quando o G20 funcionou como principal fórum de discussão econômica mundial, o mundo enfrenta grandes desafios, principalmente o arrefecimento econômico, que afeta especialmente os países desenvolvidos, agravando os desequilíbrios com os emergentes. Espera-se que desta cúpula saia um compromisso dos países emergentes, que crescem com muita força, para ajudar as economias mais desenvolvidas.
Fonte: Portal Terra, por Lúcia Müzell - Direto de Cannes