Na hora da contratação ou promoção Trabalhadora mãe tem sido preterida
Trabalhadora mãe tem sido preterida na hora da contratação ou promoção
Na hora da entrevista para a vaga é bom deixar claro que a candidata possui uma estrutura familiar bem organizada, de modo a deixar o empregador confiante de que não estará contratando uma funcionária que se tornará um problema no futuro.
No fim da década de 1990, a economista Maria Sílvia Bastos Marques assumiu a presidência da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), empresa que ela levou a lucros recordes. O desempenho da executiva foi reconhecido até pela revista "Fortune", que a incluiu em uma lista das mulheres mais poderosas do mundo. Tanta responsabilidade levou Maria Sílvia até mesmo a cumprir apenas um mês de licença-maternidade, quando a lei brasileira confere às mulheres quatro meses. Mas o lado família falou mais alto. Em entrevista à revista "Veja", em maio de 2002, Maria Sílvia garantiu que estava saindo do comando da CSN para se dedicar aos dois filhos.
A executiva de sucesso - que hoje é consultora no mundo dos negócios - é um caso à parte no mercado de trabalho. Independente do fato de ter filhos, ela tem um carreira brilhantemente construída e um forte nome no mercado. Mas e como ficam as chances de sucesso na carreira profissional para as mulheres que têm filhos? Isso pesa na hora da promoção ou contratação? "Ainda há preconceito com relação às mulheres que têm filhos. Isso ocorre porque o empregador acredita que existe mais possibilidade desta profissional faltar, se atrasar ou até mesmo abandonar o trabalho do que profissionais que não têm essa responsabilidade", afirma a consultora de Recursos Humanos Camila Mariano.
Esse foi o caso, por exemplo, de Cláudia Sampaio da Costa, de 41 anos. Ela trabalhou por anos na área de vendas de uma empresa do ramo de cosméticos como supervisora do setor. Ganhou inclusive muitos abonos em dinheiro por superar a meta de vendas. Casada e mãe de dois filhos pequenos, Cláudia tinha certeza de que seu esforço e dedicação seriam reconhecidos quando o chefe dela, gerente da área, deixou a empresa. "Eu acreditei que fosse para o lugar dele, mas acabaram trazendo um gerente de uma empresa concorrente para o lugar", lamenta.
Desestimulada, Cláudia ficou mais dois anos na empresa e decidiu sair para cuidar dos filhos e montar um negócio próprio. "É difícil conciliar família e carreira. Muita gente torcia o nariz ou fazia cara feia quando eu chegava mais tarde para cuidar de algum dos filhos que estava doente", lembra.
Segurança
Encontrar o equilíbrio na balança em que pende, de um lado, a vida pessoal e, de outro, a profissional é muito difícil, porém, não impossível, segundo Camila Mariano. Basta ter organização. "É claro que há momentos em que pode ocorrer um desequilíbrio, mas o importante é que a profissional tenha objetivos pessoais e profissionais bem organizados", aconselha.
Por isso, na hora da entrevista para a vaga é bom deixar claro que a candidata possui uma estrutura familiar bem organizada, de modo a deixar o empregador confiante de que não estará contratando uma funcionária que se tornará um problema no futuro. Além disso, uma funcionária organizada em casa será organizada no trabalho.
Para as empresas, Camila alerta: uma funcionária sem filhos não é necessariamente uma boa profissional. "Se a profissional que é mãe for qualificada para a vaga e demonstrar segurança com relação à carreira, não há por que não contratá-la."
A consultora ressalta que, quando a empresa possui mães empregadas, tem consciência de que eventuais faltas e saídas antes do fim do expediente podem ocorrer. O problema, segundo ela, é se vira rotina.
Ninguém deve fazer como a executiva Maria Sílvia e cumprir somente um mês de licença-maternidade. Afinal, a lei está aí para proteger a trabalhadora num dos momentos em que mais precisa. Mas organização é fundamental para que a mulher seja bem-sucedida em casa e no trabalho.
Por outro lado, é bom ter em mente que não são apenas as mulheres com filhos que enfrentam discriminação no mercado de trabalho. Apesar de terem aumentado a participação e acumulado mais anos de estudo, de forma geral, as mulheres ainda recebem salários menores que os homens e continuam sofrendo mais com o desemprego. Portanto, mudar essa situação não depende apenas de posturas individuais no trabalho. É claro que elas ajudam, mas o verdadeiro avanço só será conquistado com uma grande mudança cultural
Fonte Dieese