8 de Agosto de 2011 às 23:59
SAÚDE: 10 minutos para você

No sistema financeiro, a insalubridade está relacionada principalmente à forma como se organiza a atividade dos bancários. A pressão pelo cumprimento de metas, a cobrança abusiva e muitas vezes humilhante por parte das empresas, a sobrecarga de tarefas, a ameaça constante de desemprego, o tempo reduzido para as refeições e para o descanso compõem um quadro capaz de acarretar uma série de problemas de saúde.
A ocorrência de semelhantes condições de trabalho em praticamente todas as agências e concentrações de bancos do País é o que leva os bancários a figurar entre as principais vítimas das chamadas doenças ocupacionais.
A transformação desta triste realidade precisa de sua atuação. Pare um pouco e pense mais em você.
Doenças ocupacionais - São os males provocados pelas condições e/ou pelo exercício da atividade diária de trabalho, sem levar em conta aspectos físicos, mentais e emocionais dos trabalhadores. As causas podem ser movimentos repetitivos, carga excessiva, situações de estresse elevado e continuado, pressão abusiva por parte da organização do trabalho na empresa e outros.
Aqui trataremos de um dos grandes responsáveis pelo adoecimento de milhares de bancários anualmente: a longa jornada diária sem pausas para o descanso.
Hora de mudar - Frequentemente, trabalhadores, empresas e governo debatem e elaboram medidas que, se seguidas corretamente pelos empregadores, contribuiriam para prevenir, reduzir e até mesmo erradicar a incidência de doenças e acidentes resultantes das más condições de trabalho que impõem aos seus funcionários. Essas medidas recebem nome de Normas Regulamentadoras (NRs).
O problema é que a implantação de políticas efetivas de prevenção à saúde dos empregados não interessa às empresas, pois representam custos que incidem sobre seus lucros. E isso apesar da constatação óbvia: exercer sua profissão em local plenamente adequado é um direito do trabalhador, não um benefício concedido pelo empregador. Portanto, é dever das empresas não expor seus funcionários a riscos de doenças e acidentes.
No entanto, transformar essa realidade exige dos trabalhadores organização e luta. É urgente atuar pela mudança dos parâmetros de administração das empresas, que levem em conta a importância de se valorizar a saúde física e mental dos trabalhadores. Esta não pode, em hipótese alguma, ser menos valorizada que a obtenção dos lucros.
Pausa - O estabelecimento de pausas durante a jornada diária para a recuperação das plenas condições físicas e mentais dos trabalhadores está entre as medidas previstas pela NR 17 e entre as principais reivindicações do Sindicato junto ao setor patronal.
A pausa – 10 minutos de descanso a cada 50 minutos trabalhados – é uma forma sensata, humana e justa de adaptar o ambiente de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Ao permitir que a mente e o corpo se refaçam do esforço aplicado às tarefas, o funcionário readquire condições de cumprir suas rotinas com conforto e segurança.
A medida foi elaborada a partir da identificação dos aspectos que propiciam a ocorrência das doenças ocupacionais. Entre os bancários, incluindo-se os funcionários de centrais de teleatendimento, as LER/Dort, os transtornos mentais, os problemas da fala e da audição etc., estão diretamente associados, entre outros fatores, à continuidade ininterrupta da atividade
diária, geralmente sob forte pressão da gestão empresarial.
Descanso necessário - Muito importante: não basta apenas parar e permanecer no seu local de trabalho, esperando calmamente o tempo passar para que a pausa de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados contribuam
efetivamente para a prevenção das doenças ocupacionais. Especialistas em Medicina do Trabalho alertam e orientam que é preciso, neste intervalo, desenvolver outras atividades, caminhar, fazer alongamento, pequenos exercícios, relaxar etc.
“É preciso ativar a circulação sanguínea, movimentar as articulações, aliviar a concentração, descansar os ouvidos e olhos, enfim, afastar-se do ambiente de trabalho o mais possível. É assim que as condições físicas e mentais podem ser recuperadas plenamente para a continuidade das atividades, reduzindo (mas não eliminando) a probabilidade de impactos negativos sobre a saúde”, segundo a médica Maria Maeno, especialista no assunto.
Trabalhar pelo descanso - Cada vez mais, as doenças ocupacionais vêm se tornando um problema de saúde pública no Brasil. Entre a categoria bancária, o crescente número de afastamentos registrados a cada ano, comprova: atualmente, trabalhar em banco é mais perigoso para a saúde do que em uma siderurgia ou mineradora.
Essa realidade acaba de ser atestada pelo próprio INSS que elevou os bancos à categoria máxima de risco para os trabalhadores. De modo geral, as empresas – e os bancos em particular – continuam não fazendo sua parte, isto é, submetem seus funcionários a condições indignas de trabalho,
forçando-os além de seus limites físicos e psíquicos para gerar lucros cada vez maiores.
Programar definitivamente pausas de 10 minutos a cada 50 minutos trabalhados é mais uma das lutas necessárias para a conquista da plena dignidade dos bancários e requer disposição para enfrentar a resistência do setor patronal.
Por isso, é importante primeiro que todos se conscientizem de sua vulnerabilidade – todos os trabalhadores que contraíram doenças ocupacionais jamais imaginaram que isso poderia lhes acontecer um dia. A partir daí, a mobilização é necessária.
E preciso uma atuação consistente da Cipa de seu departamento, agência ou concentração; promover reuniões e debates entre os funcionários e com as chefias, procurando instalar um ambiente de diálogo e negociação construtivos, pelo bem de todos, trabalhadores, empresa e sociedade, para que as pausas preventivas sejam incorporadas ao cotidiano do trabalho.